Coringa é, sem dúvida, um dos vilões mais famosos dos quadrinhos (eu não sei se há uma pesquisa seria sobre isso). Pelo menos, da DC Comics, ele é o mais famoso.
Seu visual mais caricaturado e extravagante esconde (ou não) uma coisa bizarra. Um palhaço (que é facilmente associado a algo bom) que é um criminoso (que é associado a algo ruim).
O
filme do Coringa estreou dia 03 de outubro e é um filme que divide opiniões, certamente. Contudo ,um ponto todos concordam: É um filme angustiante. Como diz a postagem, essa será uma crítica sem
spoilers e, se tudo der certo, farei uma com
spoilers criticando o longa e comentando possíveis simbologias e as diversas camadas que o filme e o personagem trazem.
Referências
Muita referência aos filmes de
Martin Scorsese. As mais claras são de
Taxi Drive além de
O Rei da Comédia, ambos contando com a fantástica interpretação de
Robert de Niro que está no filme como um apresentação de
Talk Show. Explicar sobre essas referências é uma coisa muito importante para a trama do filme, pois, não apenas são referências, mas esses filmes dizem muito da proposta deste filme aqui.
Personagens vandalizados pela sociedade, momentos de confusão ao ponto de não sabermos o que é alucinação e o que é realidade, sensacionalismo, enfim. Bora ver mais.
O Coringa e Arthur Fleck
A primeira coisa que devemos ver aqui é que
este é um filme de origem, mas não exatamente um revisionismo. A própria criação do personagem é disputada. O palhaço do crime tem, sim, muitas origens (o próprio personagem brinca com isto no filme
Batman: Cavaleiro das Trevas) e
Joaquin Phoenix entrega um palhaço do crime completamente crível.
Essa é uma origem que, ao meu ver, desconstrói o personagem, pois o desvincula demais de seu contraponto (o Batman) e eu lembro que isso foi muito questionado pelos fãs (se teríamos um Batman nesse filme). Arthur Fleck é um cara que precisa dos programas sociais do governo para sobreviver, usar os remédios que sua condição psicológica atípica (que não é explicada no filme, mas ele toma uma ruma de remedios).
Isso sem falar na risada, que sai de repente quando ele se sente constrangido. O próprio personagem chega a comentar essa situação, quando comenta que "a pior parte de ter um transtorno mental é que as pessoas esperam que você se comporte como se não tivesse esse transtorno".
Então temos aqui um personagem com muito, mas muito tempo de tela, afinal, não tendo um antagonista,
o filme inteiro é feito para construir esse Coringa. Lembram quando eu postei sobre a
primeira foto Coringa maquiado eu falei que esse filme seria muito louco?
Poisé, aqui ganhamos um personagem completamente pautado na realidade.
A Gothan City dos anos 80
Nada de banho em tanque de produtos químicos, nada de louco que não responde por seus atos. Aqui temos um cara que, não apenas é vítima de uma sociedade cuja política econômica e social estão totalmente sucateadas, mas também opta deliberadamente por se tornar um criminoso como resposta a todas as suas frustrações.
Sim, o filme tem uma pegada política e social. E eu acho que é por isso que há essa atmosfera de perigo.
A ambientação dessa Gotham city dos anos 70 pra 80 é escura e desbotado (enquanto Arthur
ainda não se transforma em Coringa). Também temos uma crise administrativa em diversos setores (recolhimento do lixo e assistência médica e social por exemplo), além do pai de Bruce Wayne
concorrendo para prefeitura de Gothan. Tomas Wayne, um cara rico que nunca precisou desses mecanismos governamentais, aparece para criticar a população e a sua forma de se comportar.
Se a escuridão do Batman é um reflexo das noites violentas de Gothan, neste longa, o Coringa é um reflexo da literal podridão e do ódio da população em relação ao poder político. E nesse ponto, o cara é, sem dúvida,
uma representação da indignação da população.
E é aí que as críticas de que o roteiro é problemático e perigoso ganha dimensões preocupantes.
Mas Coringa é, realmente, violento?
Entre
vídeos, resenhas ,conversas, enfim, apesar das diferenças de opinião
sobre isso ou aquilo, todos entram nem consenso neste ponto.
Todd Philips, que é quem assina a direção do longa, já teve que explicar as críticas sobre
possíveis apologias ao uso da violência e SIM, o filme usa muito desse recurso de ultra violência ao grande público.
Coringa é, de fato, um personagem violento e já tem muito disso em seu currículo como
A Piada Mortal. Contudo, as acusações de incitar a violência é um assunto problemático e é só o que tem é material pra expor personagens violentos tomando o controle da situação por meio da violência como
Clube da Luta, Laranja Mecânica, Um dia de Fúria e tantos outros.
Aqui temos um filme que critica a sociedade, não apenas a Gothan oitentista, mas sociedades que acumulam comportamentos violentos e sentem necessidade de representantes que se valem dessa violência para alcançar seus objetivos... e isso mais pareceu uma descrição do Brasil de 2019, mas mantenhamos o foco.
Qual o melhor Coringa?
Eu não procuro ver qual o melhor dos palhaços. Eu acho que ambos tem contextos diferentes e construções diferentes.
O Coringa do Heath Ledger é mais voltado para os quadrinhos e, entendam, ele tem bem menos tempo de tela (pois divide o filme com o Batman). O Coringa do Joaquin Phoenix é menos cartunesco, mais crítico (socialmente falando) e, como não tem um Batman pra justificar sua aparição, pode soar aos mais puritanos (no que diz respeito a essência do personagem e entenderodes de quadrinhos) de que ele poderia ser qualquer vilão de filme policial (apesar dos elementos ligados ao universo do homem morcego).
O nome "Joker" foi dado apenas para alavancar cifrões, baseado na onda de bilheterias de super heróis. Mas não se engane, jovem gafanhoto. Como eu já disse, o Coringa tem muitas leituras, muitos "inícios" e até alguns finais. Contudo, essa é uma origem que pode (meu ponto de vista) conviver muito bem com as demais origens do personagem.
Ele é tão confuso em sua própria situação.
Enfim, eu quero saber quais suas experiências ao ver Coringa. O filme te surpreendeu? Você se sentiu incomodado ou mesmo representado? Acompanhe o Café com Pipoca nas redes sociais: