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sexta-feira, 1 de abril de 2016

Discutindo um Livro - Arma Escarlate (de Renata Ventura)

Desde o dia que eu resolvi criar "saporra" de Blog que eu insisto que o criei para discutir assuntos que não cabem ou "não são seguros" para discutir no Ideal e o Possível, tipo filmes, adaptações, games, Cultura POP genericamente falando...

... e livros. Ah, os livros, PELAMORDEDEUS os livros, tive muitos problemas em discutir livros no outro blog, mas vamos logo ao post de hoje, antes que alguém arranque o pé da mesa com uma dentada e abra meu crânio, deixando todo o vento lá residente fluir pela atmosfera.

Hoje falaremos de Literatura, mas não qualquer tipo de literatura, mas Literatura Fantástica, mais especificamente MAGIA!

O que eu trouxe aqui é a ânsia de muitos fãs do bruxo quatro olhos: Um ambiente bem ao estilo Harry Potter, mas aqui, no Brasil. Como seria a adaptação de uma obra desse cabibre para a nossa realidade? Como seria um mago brasileiro? Onde vive? o que come?!

Eu resolvi pegar o gancho da notícia acima para falar de um livro que eu andei lendo e... bom, eu não sou muito conhecedor do Universo Harry Potter e... ora com mil macacos de franja, eu também sou um péssimo leitor, mas este livro valeu o esforço, portanto, prepare-se para conhecer Renata Ventura e sua proposta de Harry Potter tupinikin.

Alguns podem torcer o nariz para o resultado... mas que se danem! E fiquem tranquilos que eu não vou dar spoiler, recomendo que leia o livro.

O LIVRO
 A Arma Escarlate foi escrito por Renata Ventura e traz um Universo no esquema de Harry Potter: Jovens recrutados por cartas trazidas por uma ave genérica, vindas de um Mágico ambiente paralelo genérico onde aprenderão feitiços genéricos. Na história, acompanhamos a rotina de Hugo Escarlate (pseudônimo do personagem principal cujo nome é Idá Aláàfin), um estereótipo racial que vive numa Comunidade "pacificada" pela Polícia, mas ainda é refém da violência.


Idá / Hugo é um cara altamente decidido, em muitos pontos da história chega ao ponto de ser cabeça dura e irredutível quando decide algo. A própria autora o define como "Indomável", essa personalidade pode ser um tanto  intragável para alguns leitores, mais acostumados ao esquema de triade entre os protagonistas, o que ajuda a desafogar extremos de personalidade.

Por exemplo: Ermione é corajosa e inteligente, Ron Weasley é medroso e burro feito uma porta, Harry Potter muitas vezes acaba num meio termo.




Voltando a história, a disputa pelo domínio da Comunidade, a dificuldade financeira, a desconfiança da Polícia que não diferencia o pobre do bandido e outros tantos problemas sociais forçam Hugo a praticamente se virar sozinho (apesar de ter família), valendo-se de sua coragem e inteligência rápida para atingir seus objetivos.

Pense em um João Grilo, mas negro e com uma varinha mágica.


A Escola Mágica em A Arma Escarlate se chama Korkovado e a passagem para ela fica no Arco da Lapa. Em meio a um tiroteio promovido pelo chefe da Comunidade e a  Polícia (que tentou tomar o controle) no meio da noite, Hugo recebe a carta de convocação para uma escola mágica e aproveita a oportunidade, se despede da Família e abraça esse novo Mundo, na intenção de reescrever sua própria existência e descobrir um tanto mais de suas próprias raízes.

Isso é muito legal, contudo, é apenas um gancho (é a segunda vez que usso esse termo, o que denota meu vocabulário desprovido de possibilidades). O que quero dizer é que a Magica Aventura, o elemento Fantástico existe e é primordial para o desenrolar da trama, mas não é o Diferencial.


O AMBIENTE É DIFERENTE, MAS OS PROBLEMAS...
Uma coisa que ficou clara em A Arma Escarlate é, justamente, a questão do Social. Renata ressalta toda essa desarmonia social que percebemos no nosso país e desconstrói o Mundo Mágico que nos habituamos a ver com Harry Potter, Percy Jackson e outros. A Magia é só um recurso a mais nesse Novo Mundo, mas a ideologia de quem está presente neste Novo Mundo não difere tanto da nossa.

Tanto do lado Mágico quanto do lado "Real" existem pessoas adeptas de Preconceitos de classe, Racismo, usar a Sabedoria para tirar vantagem dos abestados ao redor e até a repercussões de eventos políticos de nossa história no Mundo Mágico... enfim, o "Jeitinho Brasileiro" entra em pauta e, vai por mim, isso dá um enfoque todo especial ao livro, pois promove a discussão de nossos próprios probemas, mas ninguém gosta de falar/admitir.

Não me olhe assim, você sabe que eu tenho razão.

Mas nem tudo são espinhos, A Arma Escarlate não é só uma releitura fantástica de nossa sociedade moldada por nossos defeitos morais. Há muito da valorização Cultura brasileira.

REFORÇO DA IDENTIDADE CULTURAL
Pelo sangue de Herculano Quintanilha, isso é orgasmático! Os apontamentos de nossa Cultura dentro da história são geniais. Muitos jovens (e velhos também, ora pombas) sempre estão dispostos a apontar defeitos do Brasil e de nossa Cultura... mas desconhecem qualquer aspecto cultural brasileiro.

E não, Pau-Brasil não é um filme pornô.

Aliás, o próprio Pau-Brasil é enfatizado na história (a varinha de Idá/Hugo é feita desse material), além de outros elementos culturais como a Capoeira (um jogo envolvendo movimentos acrobáticos e feixes de luz, algo próximo de um Katta Gun só que mais envolvente e com menos mortos no processo), além dos Atlauas, seres desconhecidos que vivem na Floresta, comparados aos índios por Idá/Hugo.

Latim?! Os feitiços tem referência a idiomas como o Tupi e o Esperanto, o que é bem interessante, mas vamos concluir o assunto que o Post já está gigante.

RESUMINDO A ÓPERA...
A Arma Escarlate é um livro muito bom, não apenas por apresentar uma variante de literatura fantástica, mas por uma oportunidade de discutir mazelas sociais tão recorrentes no Brasil. Entenda que eu GOSTEI SIM da construção do ambiente mágico proposto pela autora, contudo, eu achei mais relevante a problematização social em literatura voltada para o público relativamente jovem, mostrando que práticas reprováveis (como corrupção e preconceito) são corrosivas e destroem qualquer tipo de sociedade.

E eu que achava que nossa situação só se resolvia com mágica... só que não!

Hugo/Idá pode não cair no gosto de todos, mas é justamente essa personalidade que o torna mais Humano, já que ele foi moldado pelos problemas de sua Realidade e se torna alguém que ataca antes de ser machucado.

Você já fez isso ou conhece alguém assim, tipo um Bob-Espoja com o lado abrasivo.

Então desde que foi anunciada existência de uma Escola de Bruxos em terras tupinikins, o povo que gosta do bruxo quatro olhos não para mais quieto. Maiores detalhes sobre isso se encontram no site Pottermore (onde os fãs de Harry Potter recebem conteúdo paralelo agregado ao Oficial Universo Harry Potter de J.K. Rowlin), sabemos que a tal escola se chama Castelobruxo e fica na Amazônia.

Isso é ótimo, quem sabe assim, os jovens finalmente descubram que há civilização na Amazônia, diferente do que pensa o pessoal do Restart... falando nisso, onde é que anda esse povo?!

Ainda, a referida escola é protegida por Caiporas, e recebe estudantes de todos os países da América do Sul... Seja como for, os estrangeiro AINDA nos veem como um bando de Índios.

Será que Castelobruxo está imune  a mágicas bastante exercitadas pelos governantes do Brasil, como desvio de verba da merenda escolar, superfaturar contratos para construção de escolas (que nunca são terminadas), desencorajar o profissional da Educação e feitiços afins?!

Daria uma História interessante... fica a dica! Então leia A Arma Escarlate, este livro é recomendado pelo Bazuca (Eu), vale a pena e reflita sobre os cenários e as situações descritas. Qualquer coisa, deixe um comentário pra fortalecer o movimento, abraço!

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